domingo, 3 de julho de 2011

O Servidor Negligente

          À porta de grande carpintaria, chegou um rapaz, de caixa às costas, à procura de emprego.
          Parecia humilde e educado.
          O diretor da instituição compareceu atencioso para atendê-lo.
          - Tem serviço com que me possa favorecer? - indagou o jovem respeitoso, depois das saudações habituais.
          - As tarefas são muitas - elucidou o chefe.
          - Oh! por favor! - tornou o interessado - meus velhos pais necessitam de amparo. Tenho batido, em vão, à porta de várias oficinas. Ninguém me socorre. Contentar-me-ei com salário reduzido e aceitarei o horário que desejar.
          O diretor muito calmo acentuou:
          - Trabalho não falta...
          E, enquanto o candidato mostrava um sorriso de esperança, acrescentou:
          - Traz suas ferramentas em ordem?
          - Perfeitamente - respondeu o interpelado.
          - Vejamo-las.
          O moço abriu a caixa que trazia. Metia pena reparar-lhe os instrumentos.
          A enxó se achava deformada pela ferrugem grossa.
          O serrote mostrava vários dentes quebrados.
          O martelo tinha cabo incompleto.
          O alicate estava francamente desconjuntado.
          Diversos formões não atenderiam a qualquer apelo de serviço, tal a imperfeição que apresentavam seus gumes.
          Poeira espessa recobria todos os objetos.
          O dirigente da oficina observou... observou... e disse desencantado:
          - Para o senhor, não temos qualquer trabalho.
          - Oh! por quê? - interrogou o rapaz, em tom de súplica.
          O diretor esclareceu sem azedume:
          - Se o senhor não tem cuidado com as ferramentas que lhe pertencem, como preservará nossas máquinas? Se é indiferente naquilo em que deve sentir-se honrado, chegará a ser útil aos interesses alheios? Quem não zela atentamente no "pouco" de que dispõe, não é digno de receber o "muito". Aprenda a cuidar das coisas aparentemente sem importância. Pelas amostras, grandes negócios se realizam neste mundo e o menosprezo para consigo é indesejável mostruário de sua indiferença perniciosa. Aproveite a experiência e volte mais tarde.
          Não valeram petitórios do moço necessitado.
          Foi compelido a retirar-se, em grande abatimento, guardando a dura lição.
          Assim também acontece no caminho comum.
          Quem deseja o corpo iluminado e glorioso na espiritualidade, além da morte, cuide respeitosamente do corpo físico.
          Quem aspira à companhia dos anjos, mostre boas maneiras, boas palavras e boas ações aos vizinhos.
          Quem espera a colheita de alegrias no futuro, aproveite a hora presente, na sementeira do bem.
          E quantos sonharem com o Céu tratem de fazer um caminho de elevação na Terra mesma.


Livro: Alvorada Cristã (Chico Xavier pelo Espírito Neio Lúcio)

Nenhum comentário:

Postar um comentário